A nossa História
A primitiva Paróquia de Mazarefes perde-se na voragem do tempo. Contudo, sem que isso signifique que não existisse séculos antes, no século XI, como se pode verificar através de documentos do tempo do bispo D. Pedro, o primeiro padroeiro de Mazarefes foi S. Simão, realçando-se o facto de a escolha deste apóstolo martirizado como o profeta Isaías – serrado ao meio (daí, a serra como ícone) –, para padroeiro, é comum nas povoações junto às margens dos rios e das terras férteis, cuja piedosa tradição popular o associa também ao noivo das Bodas de Caná. Assim se leva a concluir que era o padroeiro da freguesia (paróquia com seus fregueses) nessa altura. Para além dos documentos do tempo de D. Pedro, existem outros de 1220, de 1258, de 1290, de 1320 e de 1528, que designam a freguesia/paróquia como sendo “S. Simão da Junqueira de Mazarefes”. Embora o espaço geográfico denominado Veiga de S. Simão se perca na aragem da memória coletiva, o povo da paróquia nunca esqueceu as suas origens, sendo que aquilo que chamamos de bairrismo, esbate-se na interiorização de algo transcendental, quando permitem partilhar esse espaço com as comunidades circunvizinhas.
O primeiro documento que nos diz haver certa mudança de orago, é de 1551: S. Simão da Junqueira que às vezes também se chama S. Nicolau de Mazarefes. Aqui, o assoreamento do rio, contribuiu de certa forma para a mudança de orago. Como as águas invadiam a parte baixa da freguesia, os habitantes foram praticamente obrigados a viverem mais para sul, parte mais alta. O testemunho desta povoação/paróquia ribeirinha confirma-se através do aparecimento de tijolos, pedras, fragmentos de cerâmica, duas canoas, etc. e ainda pela capela de S. Simão aí existente. Esta não é a primitiva, tendo a atual sido construída sobre os escombros da antiga igreja paroquial, com o resto da pedra que não foi necessária para a construção/ampliação da capela da nossa Senhora das Boas Novas, em 1805, com muita pedra aproveitada de S. Simão, trazida para ali em carros de bois. A capela de S. Simão, de traça simples, alpendrada, com adro amuralhado e escadaria central, pois a mesma encontra-se mais elevada que o terreno circundante, foi reconstruída por volta de 1860, fruto da vontade e do impulso de Pe. José de Araújo Coutinho, que morreu em Braga na rua de S. Vitor.
O atual padroeiro da paróquia de Mazarefes‚ S. Nicolau, que foi Bispo de Mira (Dembre, na atual Turquia), celebrizou-se pelo zelo pastoral e pela sincera bondade que o levaram a obter milagres tanto em vida como depois da morte. Em 1087 as suas relíquias foram transferidas para Bari, na Itália. É dos Santos mais populares da Cristandade, mas não estão criticamente documentados quer o relato da sua vida, quer o elenco dos seus milagres. S. Nicolau‚ um dos temas mais fecundos, sendo representado com as insígnias episcopais e com um livro (símbolo da sabedoria, de que teria dado provas no Concílio de Niceia) ou com três jovens numa tina (por ele ressuscitados) ou com três bolsas (em memória do dote que deu a três donzelas para as livrar de desonra). Em Mazarefes, S. Nicolau, aparece-nos apenas com as insígnias episcopais, tanto na imagem do altar como a de pedra, no nicho, a encimar a porta principal da Igreja paroquial.
Nicolau viveu no século IV e ‚considerado padroeiro dos meninos e o grande patrono da Rússia. Por isso, na devoção popular, o culto a S. Nicolau, baseado na sua inesgotável generosidade, sobretudo com as crianças, degenerou em folclore: entre os saxões passou a ser SANTA CLAUS (corrupção de Sanctus Nicolaus) e, no resto da Europa, transformou-se em “Pai Natal” (“Papa Noel”, no Brasil): como a sua festividade era perto do Natal, ter dado ocasião a esta confusa sobreposição das festas. Memória litúrgica a 6 de dezembro.
Assim a Igreja de S. Simão começou por ficar abandonada, longe da povoação e de inverno cercada de água. Por isso tornava-se mais fácil aos fiéis frequentar os atos litúrgicos na igreja sob a invocação a S. Nicolau, pertença do antigo Convento beneditino. Segundo o Pe. Artur Rodrigues Coutinho, um dos filhos de Mazarefes, num dos seus inúmeros apontamentos, isto mesmo foi facilitado pelos possuidores do domínio útil do mosteiro.
Em 1551 o mosteiro e todos os bens vieram a pertencer aos fidalgos PEREIRAS os quais fizeram obras na igreja. Depois vieram os AZEVEDOS a serem os possuidores completando as obras que os PEREIRAS tinham começado.
Entretanto, a igreja de S. Simão foi-se arruinando até que se extinguiu.
A Igreja de S. Nicolau passou a ser paroquial e, segundo diz o Abade António Francisco de Matos, daqui natural e pároco durante 50 anos, numa monografia manuscrita que ele mesmo escreveu sobre Mazarefes, foi em 1724 que os AZEVEDOS oficialmente cederam a igreja para a paróquia.
Autoria: Paróquia de Mazarefes com a colaboração de Porfírio Pereira da Silva